quarta-feira, 29 de março de 2017

Equívocos

Há uma palestra dum professor-doutor, que lá de longe vem à BMEL amplificar a ignorância geral e propagar equívocos. O seu tema é o lirismo de Gil Vicente.
Diz o mestre que não se detecta no criador dramático qualquer influência trovadoresca. Nem admira! Uma tal influência não seria de esperar, já que o nosso último trovador a sério foi o D. Dinis Lavrador, duzentos anos antes.
Gil Vicente não foi um poeta lírico. Foi um espírito moderno, mais renascentista que outra coisa, produtor de textos dramáticos. Foi o ilustre pai do nosso teatro, logo que ele existiu.
Havia lirismo no seu tempo (todos nós somos líricos!), mas esse está no Cancioneiro Geral de Resende. "Senhora, partem tão tristes/meus olhos por vós..." de João Ruiz de Castelo Branco.
Gil Vicente usou o verso como forma de expressão (redondilha maior) na sua criação dramática. E não é da natureza do texto dramático expressar emoções do sujeito. "Partem em Maio daqui/Quando o sangue novo atiça/Parece-te isto justiça?... (Auto da Índia).
Assim, em lugar de desfazer equívocos, o mestre veio de longe amplificá-los. Como se fosse preciso.